O que eu posso saber numa análise que eu já não saiba?
Essas são questões importantes e que são muito úteis para diferenciar o processo analítico do universo de tratamentos que diariamente nos são oferecidos.
A psicanálise parte de um princípio importante. O sofrimento humano não é decorrente de uma ignorância ou mesmo de leituras errada do mundo. Desta forma, o psicanalista não é uma pessoa iluminada que sabe como viver e que pode, por isso, transmitir sua iluminação aos outros. Tampouco um mestre que pode ensinar o jeito certo de pensar. Muito menos ainda, um treinador emocional que visa oferecer uma disciplina de força e foco para alguém que está perdido ma vida.
É comum ter-se a ideia de que vamos a uma análise para nos conhecermos. Isso não é de todo verdade. Trata-se em primeiro lugar de uma processo que vai na direção contrária. O sofrimento humano é decorrente de um conflito entre mim e uma parte de mim que estranho. Não se trata de que desconheço essa parte. Ela está comigo sempre, me pega de surpresa, me atrapalha. Mas essa parte que não reconheço como sendo minha, é o que me é mais íntimo, é onde está minha verdade, minhas marcas, meu modo de ser. É meu estranho íntimo.
Portanto, trata-se de primeiramente de permitir a mim mesmo uma surpresa com o que sou, estranhar as certezas sobre mim mesmo, desconhecer-me.
Em seguida, olhando pra isso que estranho em mim, posso reconhecer aquilo desejo no sofrimento que repito, aquilo que me captura no equivoco que cometo, aquilo contra o qual luto em mim mesmo. Ao olhar pra isso, posso decidir o que disso quero, o que disso posso deixar cair, abandonar, e o que disso posso, a partir de agora, contornar, diminuir seus efeitos nocivos e até mesmo usar a meu favor.
Muito mais do que um saber sobre a vida, o que a análise nos permite é a construção de um saber-fazer sobre aquilo que me habita e que, portanto, me constitui.
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